Ingmar Bergman, genial cineasta escandinavo, um dos dez grandes diretores-autores cinematográficos do século XX, diríamos mesmo de todos os tempos, enquanto os elementos essenciais da arte fílmica no futuro forem os mesmos de hoje.
Nascido em 14 de julho, data simbólica, na cidade de Uppsala, e batizado Ernest Ingmar Bergman, segundo registram seus biográficos, o jovem Ingmar trouxe das experiências traumáticas de sua infância, sob o tacão de pai puritano e sádico, a geratriz de muitas inquietações de sua vida adulta como profissional do teatro (por quem se apaixonou desde os cinco anos) e do cinema (arte com a qual se identificou plenamente na década de 40). Acasos favoráveis levaram-no a um contato com a ´Svenskifilmindustri´: a resenha de uma de suas peças em exibição na cidade caiu nas mãos de mulher influente na indústria cinematográfica: ela foi ao teatro, assistiu ao drama, conheceu o jovem autor e contratou-o de imediato, recomendando-o ao diretor Alf Sjoberg (1903-80). Este decidiu dar a Bergman o ensejo de escrever o roteiro de Tortura de um Desejo (Hets). Corria o ano de 1944, Bergman completara 26 anos… Sjoberg se surpreende.
De sua infância perturbada por um pai neurótico e na contramão do bom senso e da realidade de todo dia, e para quem o sexo era pecado, a não ser entre casados e para fins de procriação (?), Bergman trouxe algumas obsessões, sobretudo o ponto crítico da angústia existencial. Há algo além da morte? Deus existe? Poderá ele ser a causa de sua causa? Qual a natureza intrínseca de Deus? Para Bergman, admitir o homem como imagem e semelhança de Deus é rematada tolice. Essa inquietação metafísica prepondera aliás em O Sétimo Selo, um dos seus melhores filmes, e noutros mais. Escusado lembrar as cenas iniciais do sonho do Dr. Borg, quando ele olha para o relógio sem ponteiros em plena rua em Morangos Silvestres e depois ver cair do coche fúnebre um cadáver: é ele mesmo. Tudo quanto Bergman pretendeu dizer está nas suas imagens-significantes.